Café Olímpia às 17h
Rua Rodolfo Rosa esquina com Visconde de Tabajara - Centro do Rio
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O buraco
Triste fim de experiente para aquelas pessoas que fazem do
trabalho sua vida, de trabalho sua recompensa, seu gozo e sua culpa,
compadecidos e coitados se vão aos montes naquele vento cinza de tarde.
Esse mesmo vento recobre certas paginas, faz voar o guardanapo usado, os
cabelos castanhos, o paletó e toda essa gente que sai do centro...como tem
gente que sai desse centro heim!
Se acumulam atrasadas na maioria das vezes, saem em bandos
na hora do almoço , comem cheias de planos e interesses, e se vão de tarde
pensando se começaram ou terminaram o dia . na verdade já nós todos nos
perdemos nesse início e fim, deixando um buraco de vazio no centro que será
total tamponado no dia seguinte por mentes atrasadas porque dormiram demais.
É só um relato sem graça de um espectador que vos fala. cada um tem, seu
buraco existencial e acho que o meu se tampa de tempos em tempos, em rotinas as
quais sei, fui eu que escolhi. uma vez que sei a que horas saio, espero esse
momento raro entre a porta de saída do trabalho e minha casa para pensar.
Todos os dias venho no café Olimpia e não faço questão de
conhecer além do que peço e o nome do Roberto que de tamanha educação,
recepciona-me amistosamente, já sem sequer perguntar nada, já pressupõe o que
sempre peço e nesta relação de conforto, paro, observo, a cabeleira da moça se
dirigindo até a praça 15, a caminho das barcas, essa gente que cumpre todo o
santo dia uma confortável rotina sabendo ou não do que se trata.
Eu para falar a verdade já não sei bem do que se trata a minha, e talvez , por
isso mesmo, me recuse , por aproximadamente uma hora, chegar em casa e admitir
que o dia teve seu fim, ainda que nem tudo esteja claro.... tem algo faltando!
-- Um expresso por favor.
2
Boa pergunta!
Da primeira vez que pedi o café, parecia que havia uma vida
inteira até esta aparecer na minha frente, num copo americano. Atribui o fato de
naquele dia eu estar mais ansiosos do que normalmente me mantenho, mas já penso
diferente... a rotina aqui faz seus milagres; como por exemplo, nos dar a
impressão de que o tempo passa depressa. A rotina faz destas coisas, nos droga
e não nos incomoda, a não ser que se veja para além dela....ai vc se coça.
Não tô afim de me coçar muito hoje não, tá bom do jeito que
tá. Só n posso dizer que está 100% primeiro que isso é fantasia e segundo, se
houvesse alguma porcentagem próxima a isso, bem, não me daria ao trabalho de
pensar sobre ela, nem na minha mente haveria rastros dela.
ela, a insatisfação....
Vamos ao que interessa, o café chegou. Lembro -me de uma
viagem que fiz a Istambul faz uns 5 anos; bebi um café tão fantástico...
lembrei-me justamente pelo pó do café que vislumbro no fundo deste copo. Uma
forma romântica essa de admitir que esse café tá ralo pra caralho.
Que seja, tá quente; e as lembranças da viajem me confortam,
me dizem pensar que não há nada que eu possa me indignar na minha atual situação em
comparação a grande e interessantíssima viagem que fiz para ser feliz e
principalmente, para guardar como um pacote de coisa feliz pra vida toda.
É confortável pensar assim. Sonhos e momentos sublimes são
para nosso passado, presente e futuro. Tá ai, pacotes de felicidade são tão
atemporais e conveniente para quem sabe usar; melhor do que ficar descontente!
Mudemos de assunto...
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