Saturday, August 24, 2013



O que dizer?

Sai tão desconcertada com aquilo

Aquela pedra bruta

Um relato chocante

O lado mais frágil de um ser

Como qualquer outro ser

Como certos, que já fui

Mas assim, foi um parto

E eu, em minha posição de pronta escuta

Senti-me doula, parteira de uma força selvagem, contida

O sintoma que saia ensanguentado

Nutrido e alimentado por anos e anos

Finalmente cai no chão e se mostra feio e vivo

E a palavra que para ele pode ser dita

Enquanto o segurava em minhas mãos

O paciente dizia o que queria

E como o não, desejava, mas ainda sim

O reconhecia!


Sai de lá e me entorpeci, bebi!

Cheguei em casa e durante duas horas

Pari seu relato

O monstro então não era mais o mesmo da sessão

Demorei duas horas, parei diversas vezes

Pois este sintoma monstro é humano

E enquanto escrevia ele olhava pra mim

O que me dizia?


O que dizer?
Falar de uma existência intensa, de uma mente inquieta e um olhar silencioso
Difícil pra mim acreditar em algo que verdadeiramente não passe por uma lógica
Ainda que seja a da loucura
Me apego rápido ao palpável , visceral e inexplicável das dores do homem
Me apego fácil ao não barulho
E escrevo melhor depois de algumas horas no absoluto silêncio
Ainda assim me sinto insegura em dar o corte
Pelo fato maior de que a palavra é ainda o centro do universo
E seu verbo , tal qual um buraco negro que suga pulsionalmente
Todos aqueles egos inocentes e ávidos de respostas
Os menos resistentes vão primeiro
Os mais sólidos se iludem mais rápido
E assim caminha a humanidade.

Thursday, August 22, 2013






O que dizer?
Do poema que farei
Só sei que será ridículo
Que me empenharei em disfarçar o quanto é ridículo
Assim como os medos da burguesia em não poder pagar a diarista nesse mês
E como certas pessoas no ônibus que fingem dormir
Sei que não é importante ter início claro, mas importante saber onde está o meio
E saber a hora de parar
E culparei até o fim um outro alguém
Por ter me desconcentrado
Serei subjetiva
Medirei minhas palavras
Tentarei ser médio forte, médio fraco, médio bonita e não chocar d+
Falarei de um tema qualquer
Darei ritmo às palavras para que possam ser musicadas
E vomitar toda uma sorte desenganos, melancolias e lembranças ruins que tenho como magoa,
Vomitarei, botarei terra em cima e uma muda de flores rosas
Pra provar pra mim mesmo
Que posso transformar minha dor em arte!
E então poderei passar de ridículo para um(x) artista
Pois afinal, soa melhor numa existência vazia
Que abate qualquer ser humano, sem preconceitos de raça, credo, e etc..
E viva a arte!
Ass: ( X) ARTISTA


https://www.youtube.com/watch?v=-bp4kiW_te4
O que dizer?
Sobre a carne que encarnei
Quando ainda não sabia 
Nem adorava
Nem temia
Nem queimava
De sangue a carne já se alimentava
Se encharcava de vida
Quando não Eu sabia
Que ela doía
Que ela aberta jorrava
Já sabiam que ia jorrar, de dor, de prazer e do mensal envelhecer
Quando não sabia era ela que me determinou, nesta cor levemente rosada e sem graça
Com canos, cantos, úmidos, encharcados
Da minha carne
Só sei o que me disseram
Do que não sabia
Que amava
Que doía
Que inchava, secava e caia
Que jorrava quando aberta
Que escurecia, que queimava
Sem mais essa matéria viva
Findará e minha ideia
Vagará fantasma sem saber muito bem
Do que se passava
Talvez a terra saiba mais
Minha mãe saiba mais
E o sangue que a encharca de vida
Saiba
O porque que tanto fluía!