Friday, July 19, 2013


...Eu me preocupo todos os dias com o peso que as barcas depositam em mim, que os ônibus e os engarrafamentos , os quilômetros cinzas e luminosos recorrem a mim, e não só a mim, mas todos os egos oprimidos e disciplinados sentem...

A noite na cidade pesa, pesa muito nos transportes públicos, pesa muito no ônibus, nós amultuados pesamos e o peso nos faz pesar e amassar também

O entardecer não faz o menor sentido de ser no centro da cidade,

É cada um na sua e pesa o que será amanhã

Enquanto todo mundo pensa em render mais e mais, só vejo rostos tristes e acabados de gente que cansou de pensar às 18h da tarde

Esqueceu de gozar, esqueceu do que não é urgente

Pessoinhas cansadas até se refletem no vidro do metrô, do ônibus

É o que resta, ver seu reflexo e pesar na sua bolsa

Um cheiro de combustível, uma cidade suja e desigual

Uma cidade esquizofrênica no humor

Uma cidade quase grande, cinza e banal

Rio de Janeiro de tarde, em um dia normal e sem cartão postal.

Wednesday, July 17, 2013


Certo dia fui ver um sapato meu que saiu assim sem me avisar.

Do tipo sapatilha vermelha, e sem depender de meus pés ,até Lamarck poderia dar um testemunho e assim gostaria, tenho certeza, de que meu sapato não só pensava, como andava e escolhia, mas preciso e instinto do que eu!

Foi lá...

Embolou-se na escada, rolou um par 3 degraus abaixo, derrapou suave na rampinha de acesso a rua, arrastou-se bem feminino e girou, 360º a rua, e foi pra rua.

Um dos pares pisou na poça, outro se alongou no meio fio, outro cismou que de repente só pisava no preto, outro que não pisava em divisões.

Pisou em marfim, em cimento batido, panfleto de plano de saúde, nota fiscal, chiclete, baba, cocô de cachorro, barata, sangue pisado, muitas folhas , algumas flores, um tropeçou, outro gastou mais o calcanhar esquerdo, os dois pisaram na areia da praia.

Depois voltaram pra casa, e esperaram mais 5 minutos pois meus pés sairam e não deixaram a chave, só um bilhete

"fomos na farmácia comprar bandaid e já voltamos"


Silêncio

É essa figura ai, andrógena, que alguém chamava de silêncio

Um cara alto, magrelo e estranho

Um tipinho enjoado e contemporâneo, um tipinho assim,

olhando pra mim;

como se olha um tigre comendo uma maçã;

como quem chega atrasado na feira da Gloria;

Um tipo de coisinha magrelinha, calça fina

Que nem sabe o que fuma

--Oh silêncio! exclamou um amigo que passava.

Silêncio recuou e o atendeu, falou algumas poucas palavras mas volto pro seu nome

Andando torto

Vendo a passeata

Ele corria com aquelas perninhas magrelinhas, não entendendo nada, não entendendo nada

Silêncio foi, mas voltou pra casa,

sentou a cara no computador,

ligou a webcam e falou pra caralho

com seu meio amigo mortal do Canadá

Seu nome é Luiz

Já foi mudinho

Pra família é lu ou "o estranho"

Pra ele.... bem, ele ainda n sabe!

Espera pra ver

Sem se implicar contanto e sem se responsabilizar

Sua criação já se basta nos outros

O chamam de silêncio

....e é o que deve ser mesmo(pensou).

Sunday, July 14, 2013


Os olhos das sereias

Amarelos e bizarros, grandes, assustadores

Juro! São os olhos mais dilaceradores que já vi

Num pavor animalesco, refletiam aquilo que há de mais além de toda a profundeza que o oceano ainda disfarça

Carregava a verdade de um acaso tão insuportável à conclusão vã do EU, o narcísico

Eram amarelos e enormes, olhavam tudo mas sem perder o foco

Eram 3 beldades bizarras , metade peixe e metade nada

Uma pele viscosa de seios firmes, musculosas e frias,

mas eram bem e tão vivas

Ainda , lá, com aqueles olhos que me olhavam e atravessavam, como se de mim, apenas um pedaço destoante de tudo mais que mudava de cor ou temperatura

Quase não piscavam, mas ainda molhados, captavam a luz que refletia da água e quase me seguei de tanta luz

Era sempre e inevitavelmente mais próximo

Eu não era mais humana, não era mais nada

E antes de meu acaso me engolir, pensei mais um pouco

Fisicamente, frente, agora daqueles olhos bizarros, os quais me deram sem saber mais alguns segundos

Me desfazia do que eu acreditava, já não tinha filosofia pós-moderna ou fé que desse conta de explicar o que, para além, eu era .

E o acaso, molhado de nada e existindo de não sei como, me abateria. Aquilo que fui enquanto desejava.